Pular para o conteúdo principal

Cura pela melodia


Artigos
edição 198 - Julho 2009
Cura pela melodia

por Ricardo Giagni
© BLUE DAISY/SHUTTERSTOCK

Em todas as culturas, sociedades e épocas, considera-se que a música detém um poder específico sobre a alma, a consciência e os sentimentos dos indivíduos e da coletividade, qualquer que seja a forma que a atividade musical assume na realidade histórica e social concreta. Todos já experimentamos esse poder caprichoso: a audição casual de um trecho de canção, as notas de uma sonata clássica ou um solo jazzístico de piano atingem, com precisão misteriosa, zonas de nossa memória e de nossa sensibilidade até então na sombra. Somos assim inesperadamente – e de boa vontade – dominados por uma emoção pura inominável – e familiar.

Somos tentados a pensar a música como uma potência que escapa às hierarquias e generalizações, um domínio indiferenciado e caótico: afinal, essa experiência parece ser pessoal, embora compartilhada por milhões de pessoas, e, além disso, qualquer que seja o tipo de música, o resultado não é alterado (nesse campo, Bach vale tanto quanto Laura Pausini). Não devemos, porém, subestimar esse poder universal, tantas vezes identificado como uma das marcas fundamentais da natureza humana, sobretudo quando ele tem a possibilidade de alterar os estados de consciência das pessoas. É o que ocorre, por exemplo, na terapia de dança e música do tarantulismo, que realiza rituais antiguíssimos, e em experiências de possessão do êxtase ativadas por sons, presentes em todo o mundo, da Terra do Fogo à Sibéria, do Brasil ao Vietnã.

O som governa a mente do homem e os deuses não são estranhos a esse atributo, se é verdade que, nos diversos mitos de criação, sempre que a gênese do mundo é descrita com suficiente precisão, um elemento acústico intervém no momento decisivo da ação: no instante em que a entidade divina manifesta sua vontade de criar o céu, a terra, os homens e todas as coisas, ela emite um som, muitas vezes cantando ou tocando um instrumento.

Ricardo Giagni é musicólogo, compositor e ensina história da música para cinema na Universidade de Lecce, na Itália.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Neuropsicologia e Distúrbios de linguagem

Afasias As regiões cerebrais implicadas nos processos de linguagem localizam-se no hemisfério esquerdo na grande maioria dos casos e compreendem a porção posterior do giro frontal inferior (área 44 de Brodmann ou área de Broca). O terço posterior do giro temporal superior (áreas 41 e 42 de Brodmann ou área de Wernicke), os giros angular (área 39) e supramarginal. e a porção temporal inferior (área 37) e suas respectivas áreas de associação cortical e subcortical. Várias afecções neurológicas como infartos, doenças degenerativas. ou lesões traumáticas podem determinar diferentes tipos de afasias, dependendo da localização das áreas comprometidas. Muitas vezes, no entanto. TC e RM podem demonstrar lesões em áreas não correspondentes aquelas esperadas para os diferentes tipos de afasia , sugerindo a presença de diferenças anatômicas individuais e a importância da correlação da imagem à investigação clínico-funcional. Afasia de Broca (afasia de expressão, motora ou não fluente) Caracteriza...

Labirintos do orgulho

Dificuldades de Leitura e Escrita

Funções Neuropsicológicas em Crianças com Dificuldades de Leitura e Escrita1 Jerusa Fumagalli de Salles2 Maria Alice de Mattos Pimenta Parente Universidade Federal do Rio Grande do Sul RESUMO – Nos estudos sobre a relação entre dificuldades de leitura e escrita e fatores neuropsicológicos associados, controvérsias giram em torno de hipóteses de um possível desvio ou atraso de desenvolvimento. Para examinar esta polêmica, o presente estudo comparou o desempenho em tarefas neuropsicológicas de crianças de 2ª série com dificuldades de leitura e escrita (n=14) com o de dois grupos: um contrastando competência de leitura e escrita, mas não idade (n=15) e outro contrastando idade, mas não competência de leitura e escrita (1ª série; n=9). Os resultados revelaram que o grupo de 2ª série, com dificuldade de leitura e escrita, apresentou escores estatisticamente inferiores aos do grupo de 2ª série competente em leitura e escrita em consciência fonológica, linguagem oral e memória fonológica, não...